Bicheira: evitar lesões ajuda a prevenir o problema
Na rotina do campo, o surgimento de feridas em bovinos é relativamente comum. Mas o que parece um pequeno ferimento inocente se transforma em um problema sério quando ocorre a infestação de larvas da mosca Cochliomyia hominivorax, causadora da bicheira.
A bicheira é uma ferida dolorosa e debilitante para os animais que, além disso, traz graves prejuízos econômicos para a pecuária, com perdas no desempenho produtivo, descarte de carcaças e altos custos com tratamento. A boa notícia é que diminuir a incidência de lesões e manter práticas adequadas de manejo sanitário pode prevenir a maioria dos casos.
Continue a leitura do artigo para entender desde a biologia da mosca até as melhores estratégias de prevenção e controle.
O que é e como se desenvolve a bicheira?
A infecção é um tipo de miíase obrigatória, porque precisa de um hospedeiro vivo para completar seu ciclo, causada pela mosca Cochliomyia hominivorax (também conhecida como mosca-da-bicheira ou mosca-do-novo-mundo).
Diferente do berne e de outros tipos de miíases, por outro lado, a bicheira utiliza tecidos vivos como alimento para suas larvas, o que torna a infestação mais agressiva e perigosa.
Como ocorre a infestação?

- A fêmea da mosca adulta localiza feridas abertas nos animais;
- Deposita entre 200 e 300 ovos sobre a lesão;
- Os ovos eclodem em poucas horas (em menos de 24 horas, geralmente), liberando larvas que penetram no tecido;
- As larvas alimentam-se de carne viva por 5 a 7 dias, formando cavidades profundas;
- Após esse período, elas caem no solo para se puparem e, assim, darem origem a novas moscas.
É uma infestação rápida, dolorosa e de alto impacto, principalmente se não for identificada e tratada precocemente.
Principais causas de bicheira em bovinos
A presença de feridas é o fator-chave para o seu início. As situações que mais predispõem os animais a desenvolverem essa doença incluem:
- Feridas cirúrgicas (castração, descorna);
- Marcação com ferro quente;
- Picadas de carrapatos ou moscas hematófagas;
- Acidentes durante o manejo (cortes, escoriações);
- Parto ou prolapso uterino;
- Infecções ou abscessos não tratados.
Portanto, quanto mais negligenciado o cuidado com feridas, maior o risco de infestação de larvas.
Impactos econômicos na pecuária
O parasita compromete diretamente o desempenho do rebanho e, como resultado, provoca perdas significativas:
- Redução no ganho de peso e na produção de leite;
- Desvalorização ou descarte de carcaças e couro;
- Gastos com medicamentos e mão de obra para tratamento;
- Estresse nos animais, o que afeta o bem-estar e a imunidade;
- Riscos de morte em casos mais graves ou não tratados.
Estimativas apontam que o prejuízo causado chega a centenas de milhões por ano no Brasil. É um número alarmante mas a doença pode ser prevenida facilmente.
Prevenção: evitar lesões é a melhor estratégia
A prevenção está diretamente ligada à redução das lesões nos animais. Além disso, exige boas práticas de manejo:
1. Cuidados com o manejo
- Evite manejo brusco que cause cortes ou escoriações;
- Utilize técnicas menos agressivas para marcação e castração;
- Evite realizar procedimentos cirúrgicos em épocas de alta incidência de moscas (primavera e verão).
2. Higienização e proteção de feridas
- Após castrações, marcações ou intervenções cirúrgicas, aplique produtos cicatrizantes e repelentes de moscas;
- Mantenha os curativos limpos e secos;
- Faça inspeções regulares para identificar sinais iniciais de infestação.
3. Controle da população de moscas
- Uso de inseticidas tópicos ou pour-on com ação repelente;
- Implantação de armadilhas para moscas e controle biológico, se possível;
- Eliminação de matéria orgânica em decomposição, esterqueiras e áreas de reprodução da mosca.
Vigilância e controle sanitário fazem a diferença
Evitar essa infecção parasitária exige uma postura proativa e constante do produtor. Desde a capacitação de colaboradores, para a rápida identificação e controle precoce da doença, até estabelecer protocolos para situações de risco e a implementação de calendário de controle estratégico.
A vigilância deve ser intensificada em períodos de calor e umidade, quando há maior presença da Cochliomyia hominivorax.
Como agir diante de uma infestação
O tratamento deve ser feito com urgência e precisão para evitar maiores complicações, e sob orientação veterinária. Portanto, as medidas mais comuns são:
- Remoção das larvas com pinça ou espátula;
- Limpeza da ferida com antisséptico;
- Aplicação de produtos larvicidas e cicatrizantes, de uso tópico ou injetável;
- Em casos extensos, pode ser necessário o uso de antibióticos sistêmicos.
Considerações finais
A bicheira é uma ameaça silenciosa que se aproveita de pequenas lesões, mas pode ser combatida com informação. A prevenção começa no manejo diário, e, além disso, com controle de moscas, cuidados sanitários rigorosos e tratamentos adequados é possível manter o rebanho saudável, produtivo e livre dessa grave infestação.
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